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Sem Palavras com Algo a Dizer

Com propostas sonoras variadas, nova geração do rock independente aposta nas canções sem vocais

Por Humberto Finatti Publicado em 25/08/2009, às 13h41

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O novo rock instrumental brasileiro está fazendo barulho. Nos últimos meses, dezenas de bandas espalhadas por todo o país têm promovido uma intensa movimentação na cena musical independente nacional, seja lançando discos (de forma virtual, na internet ou ainda através da velha plataforma física do CD), seja fazendo shows e percorrendo festivais. A grande oferta gerou um aumento do interesse do público e da mídia para um gênero que sempre existiu, mas que sempre foi considerado "complexo" ou "pouco viável", comercialmente falando. Nomes como Macaco Bong, Pata de Elefante, Hurtmold, Trilöbit e Elma, entre tantos outros, mostram que o rock feito sem letras e vocais já possui uma boa a ceitação entre uma nova geração de ouvintes.

Formado por Bruno Kayapy (guitarra), Ney Hugo (baixo) e Inayã (bateria), o trio cuiabano Macaco Bong se tornou não apenas fenômeno de público (para os padrões da música sem vocais) como já colheu frutos com sua estreia, Artista Igual Pedreiro, eleito o melhor disco nacional de 2008 pela Rolling Stone Brasil.

"Esse interesse pelo novo rock instrumental brasileiro é consequência do modo como construímos nosso espaço na cena independente", teoriza Ney Hugo. "A música instrumental era quase que restrita ao jazz e a nova cena nos permitiu essa liberdade estética, algo que não existia no mainstream musical, em que os diretores das grandes gravadoras praticamente impunham que as bandas gravassem com vocais, por questões comerciais." Para o músico, o hábito de ir a festivais e conhecer bandas novas é outro dos fatores que colaboram com a popularização da música instrumental: "Essas bandas novas vieram com uma pegada mais rock, cheia de riffs e a guitarra às vezes faz a voz. E isso ajuda a conquistar a garotada".

"Quem opta por fazer música instrumental é porque acredita que a música está mesmo em primeiro plano", defende Gustavo Pellez, baterista e um dos fundadores do trio gaúcho Pata de Elefante, que existe há sete anos e já lançou dois discos - o mais recente, Um Olho no Fósforo, Outro na Fagulha, também entrou na lista dos melhores de 2008 da Rolling Stone Brasil. "Se você acredita que o que você faz é pulsante e orgânico, o vocal não é necessário. Além disso, as pessoas estão se dando conta de que a música instrumental não é algo chato."

Outro detalhe notável da cena instrumental brasileira é a diversidade de estilos. Se o Macaco Bong é mais jazzístico e experimental, o Pata de Elefante compõe canções mais melódicas e que remetem ao blues. O quarteto paulistano Elma, por sua vez, investe no rock de contornos mais pesados, quase heavy metal. "Posso dizer que fazemos metal instrumental", brinca o guitarrista Bernardo Pacheco, que também é técnico de som do paulistano Hurtmold, nome veterano da cena instrumental e que, desde o ano passado, se tornou a banda que acompanha Marcelo Camelo no trabalho solo dele. "É meio estranho falar sobre isso, mas não vejo essa movimentação como uma cena, pois as bandas são muito diferentes entre si", opina Guilherme Granado, multi-instrumentista do Hurtmold. O mesmo pensamento é defendido por Marcelo Domingues, baixista do Trilöbit, de Londrina: "O Macaco Bong é jazz experimental. Nós somos mais eletrônicos. É esse colorido, essa diferenciação de estilos dentro do gênero que torna a cena ainda mais interessante".

A dimensão que o rock instrumental nacional está tomando pode ser medida também pela existência do PIB, ou Produto Instrumental Bruto, um festival voltado exclusivamente para divulgar bandas sem vocais, cuja segunda edição ocorre em meados de julho no CB Bar, em São Paulo. Organizado pela produtora Inti Queiroz, a edição 2009 recebeu mais de 120 inscrições de grupos interessados, sendo que apenas 12 foram selecionados para se apresentar nas quatro noites de evento. O número recorde de inscrições é uma prova do momento favorável pelo qual o rock nacional instrumental passa. "As bandas estão se profissionalizando, lançando bons CDs, e as gravadoras independentes estão investindo nelas. A qualidade musical dessas bandas está fazendo com que elas se destaquem mais do que os grupos com vocais, que ultimamente estão com letras péssimas e qualidade musical duvidosa", acredita Inti, que ainda completa: "Hoje eu citaria poucas boas bandas nacionais de ótima qualidade e com vocais: Móveis Coloniais de Acaju, Vanguart e Autoramas, por exemplo".