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Maria Rita

Agora morando no Rio, ela não tem a menor "pretensão de ser sambista", mas acaba de lançar seu terceiro disco, Samba Meu

Christina Fuscaldo Publicado em 09/11/2007, às 13h33 - Atualizado às 13h39

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Imagem Maria Rita

O que você aprendeu com o samba?

Que dá para ter alegria até na tristeza.

Entrar nesse mundo definitivamente é uma das suas expectativas em relação a este trabalho?

Sou apaixonada por samba e minha maior expectativa é a de que as pessoas compreendam meu objetivo, que é fazer uma declaração de amor ao ritmo. Não tenho a menor pretensão de ser sambista.

Sua mudança para o Rio também é parte do projeto "Maria Rita no samba"?

Tenho uma relação de amor mal-resolvida com essa cidade e achei melhor "resolvê-la". Desde a gravidez, tenho vontade de vir. Amo São Paulo, mas essa parada de ter mais contato com a natureza estava me fazendo falta.

No último Prêmio Multishow você surpreendeu ao aparecer no palco de barriga de fora. O visual tem tudo a ver com a música "Corpitcho", que está em seu último CD. Por que mostrar agora o que antes estava escondido?

Sempre fui tímida e insegura, não me acho um exemplo de beleza e de corpo. Mas essa coisa de me mostrar mais tem a ver com estar me sentindo à vontade comigo mesma e de saber usar meu corpo. Tenho barriga, então uso uma calça que não mostra tanto. Meu braço não é lindão e meu peito é grande - tem camisas que não posso usar. Não fiz dieta, não malho. Sou um péssimo exemplo. Morro de medo de lipoaspiração e de botox... Mas, por outro lado, como orgânicos, não tomo refrigerante há dois anos, não fumo, não bebo muito. E como pouco doce, por causa da voz. Tem ainda o fator genético. Minha mãe era toda gata e meu corpo é parecido com o dela.

Nos agradecimentos de Samba Meu você fala que a percussionista Layse Sapucahy ensinou a você "o que é ser uma mulher sambista". Isso inclui o corpão?

Falo brincando que, se ela for para a estrada comigo, vai ter que usar gola alta, calça comprida e chapéu, porque não pode chamar mais atenção do que eu [risos]. A Layse usa roupas curtas e justas porque tem um puta corpo, mas sabe se impor. Isso, para mim, é o que deveria ser a mulher sambista. Além disso, ela é uma das poucas percussionistas mulheres do país e arrasa.

E como você descobriu o Arlindo Cruz, que assina seis composições neste disco?

Tom Capone [produtor do primeiro álbum de Maria Rita, de 2003] falava muito do Arlindo. Uma vez fui ver uma participação do Leandro Sapucahy no show dele e o conheci no camarim. Quando fui à casa de Arlindo, ele me contou que fez "Tá Perdoado" depois de me ver na televisão: "Fiz esse samba para você. Se quiser gravar ou não, é seu". Ele cantou e eu chapei.

A música "Novo Amor" está também no álbum da Roberta Sá. Voçes duas também gravaram "Casa Pré-Fabricada" em seus trabalhos anteriores. Existe algum tipo de concorrência entre vocês, cantoras?

Gravei a música de Edu Krieger para o Segundo (2005), mas ela ficou de fora porque o formato piano-baixo-bateria enfraqueceu. Para Samba Meu, quis gravá-la junto com "Maria do Socorro". E "Casa Pré-Fabricada" era para ter entrado no meu primeiro disco, mas o Tom [Capone] me deu um toque porque já tinha muitas composições do Marcelo Camelo. Acho a Roberta Sá uma ótima cantora e fizemos duas leituras muito diferentes das mesmas canções. É bom para o Edu, para o Camelo e para o público, que pode escolher.

Elis Regina já explorava diversos gêneros...

Sempre comentam: "Você fala que não quer ser comparada a sua mãe, mas canta MPB, apesar de ter muito mais influência do jazz e do rock". No Falso Brilhante (1976), da minha mãe, tem gritaria, polícia rodando no palco, rock... Ela foi pioneira e muito destemida. Atacava no samba, no rock, na MPB, no espanhol, no inglês, no jazz... Isso é que é maneiro. Lulu Santos fazia rock, mas outro dia subiu no palco e fez um funk. O artista tem essa coisa da alma grande, de estar sempre buscando coisa nova. Acho bom.

MARIA RITA

"Minha mãe era gata e meu corpo é parecido com o dela"

PLAYLIST - SAMBAS INESQUECÍVEIS

"Quando a Gira Girou" com Zeca Pagodinho

"É do Serginho Meriti e é a faixa 4 do genial Acústico Gafieira, do Zeca. A música é forte, bonita, me fez chorar."

"Só pra Contrariar" com Fundo de Quintal

"É o primeiro samba que me lembro de ter guardado das minhas audições despretensiosas de rádio."

"Enredo do Meu Samba" com Fundo de Quintal

"Um dos momentos mais emocionantes da minha vida foi ter cantado esta música com Dona Ivone Lara no [programa] Altas Horas, no início deste ano."

"Coração Leviano" de Paulinho da Viola

"Quem nunca se apaixonou por um coração 'que nunca será de ninguém'?"

"Alvorada" de Cartola, Carlos Cachaça e Hermínio Bello de Carvalho

"Foi o primeiro samba do Cartola que aprendi a cantar, para o show de verão da Mangueira. Cantei com o Tantinho da Mangueira e o Hermínio estava na platéia."