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Terapia e Profissão

Na lista das atletas que representarão o Brasil nos Jogos Olímpicos de 2020, Monica Torres se equilibra em cima do skate para ajudar a equilibrar a vida

Igor Brunaldi Publicado em 12/05/2018, às 17h47 - Atualizado às 17h48

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Monica em ação: switch stance heel flip na Praça Roosevelt, em São Paulo - Allan Carvalho/Divulgação
Monica em ação: switch stance heel flip na Praça Roosevelt, em São Paulo - Allan Carvalho/Divulgação

A participação no Street League Skateboarding (SLS) – campeonato disputado nos Estados Unidos pelos melhores skatistas do mundo – em 2016 é um assunto importante, mas ao mesmo tempo sensível para a paulistana Monica Torres. No começo daquele ano, a atleta perdeu a avó e, três meses depois, a mãe. Ainda sentindo a dor de ter que se despedir das duas figuras responsáveis por sua criação, Monica foi convocada para disputar o SLS e, como uma amante do skate e profissional do esporte, não pôde deixar escapar essa chance, uma que qualquer skatista daria tudo para ter.

Enfrentando as perdas recentes, ela embarcou, doente, para a competição. “Foi um ano muito difícil pra mim. Sofri bastante com tudo, fiquei uns seis meses quase sem andar de skate, e foi o ano em que eles me convocaram”, relembra. O resultado, como era de esperar, foi frustrante. “Estava de cabeça cheia e não deu certo. Minha maior batalha lá foi comigo mesma. Eu não conseguia acertar as manobras que faço todo dia. Era como se eu não quisesse estar lá. Foi o pior momento possível. Quando eu me lembro dessa experiência de estar no Street League, tentando recordar o que senti, só consigo lembrar que foi um ano de merda.”

Do sentimento de luto e solidão, Monica tirou forças para se reerguer. “Eu tinha só minha mãe e minha avó, mas ainda bem que eu tinha e tenho o skate”, declara. “Foi através dele que eu fiz a maioria dos meus amigos mais próximos. Foi minha saída quando as coisas estavam mais difíceis, me manteve equilibrada, tanto econômica quanto espiritualmente.” Depois de alguns segundos em silêncio, olhando para algum espaço dentro de si, ela crava: “O skate é algo que, enquanto eu ainda puder fazer, vou fazer”.

Esportista desde sempre, Monica tem hoje 23 anos de idade e nove em cima do skate (o que, se levarmos em consideração a idade com a qual a maioria dos skatistas profissionais começa, significa que ela entrou tarde nessa briga). Ela é uma das quatro atletas da modalidade street feminino na lista de representantes do Brasil nas Olimpíadas de 2020. Em 2017, conquistou o primeiro lugar no Skate Copa Court Adidas e nos Jogos Urbanos de Skate. Três anos antes, foi eleita a skatista do ano pela revista CemporcentoSkate. Os títulos são impressionantes para quem tem menos tempo de prática do que grande parte da concorrência. Para ela, são um reflexo do amor e da dedicação ao esporte. “No skate, você pode colar na pista e encontrar um skatista foda. No futebol, não tem a chance de você ir jogar bola e encontrar o Neymar, por exemplo. É disso que sempre gostei nesse mundo, não tem uma parede separando o skatista normal e o profissional.”

Monica destaca a internet como um elemento que a ajudou a ganhar alcance. “Comecei a filmar e postar as manobras com o celular. Foi assim que eu entrei nesse meio.” Ao mesmo tempo, questiona o uso da ferramenta no mundo do skate. “Hoje em dia todo mundo lança vídeo diariamente pelo Instagram. Isso é bom por um lado, por causa da resposta imediata, mas por outro lado cada material gravado acaba perdendo o impacto. Não tem mais aquela ansiedade de esperar sair o filme para ver o pessoal destruindo. Estamos em uma época complicada, se você não caminhar junto às inovações, acaba ficando pra trás rapidinho.”