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Música / Retrospectiva

De Elis Regina feita por IA ao silêncio de Taylor Swift: as polêmicas da música em 2023

Antes que 2023 acabe, relembre polêmicas da música que marcaram o ano

Elis Regina de IA (Foto: Reprodução) | Taylor Swift (Foto: Amy Sussman/Getty Images)
Elis Regina de IA (Foto: Reprodução) | Taylor Swift (Foto: Amy Sussman/Getty Images)

A junção de música e IA (Inteligência Artificial) gerou debates envolvendo ética; a passagem de Taylor Swift pelo Brasil decepcionou parte dos fãs e tirou produtoras da zona de conforto; Juliette foi acusada, novamente, de plágio — dessa vez ao lado de Duda Beat; e Tyler, The Creator precisou pedir desculpas a Gilberto Gil. Antes que 2023 acabe, relembre essas e outras polêmicas que marcaram o ano:

Elis Regina de IA

Em comercial lançado em 3 julho, Elis Regina e a filha Maria Rita aparecem cantando “Como Nossos Pais”. Ao mesmo tempo, e lado a lado, a intérprete de "Encontros e Despedidas" dirige a nova Kombi ID.Buzz, enquanto Elis aparece dirigindo o modelo clássico.

O vídeo gerou polêmica após parte do público resgatar a relação da Volkswagen com a ditadura militar no Brasil (1964-1985). Tanto Belchior, autor da canção utilizada na propaganda, quanto Elis Regina se posicionaram contra o regime militar. “Como Nossos Pais” também é comumente associada à temática de conflito de gerações. Por isso, alguns telespectadores interpretaram o uso da música como uma descaracterização do sentido original. O filho mais velho de Elis, João Marcello Bôscoli, por outro lado, afirmou à Folha de S.Paulo que se emocionou e que não concorda com as críticas negativas sobre a publicidade.

O Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) chegou a abrir uma representação ética contra a campanha VW Brasil 70: O novo veio de novo, da Volkswagen do Brasil, mas arquivou — considerando a autorização de herdeiros para a criação de cenas que nunca existiram. Consumidores questionaram se é ético o uso de IA e deep fake para reproduzir a imagem de pessoa falecida. Uma atriz foi usada para recriar o rosto e movimentos de Elis, morta em 1982.

Lizzo no tribunal

Ícone do feminismo e da autoaceitação, Lizzo  — cujo nome verdadeiro é Melissa Vivianne Jefferson — está no centro de denúncias envolvendo assédios desde agosto. As ex-dançarinas Arianna Davis, Crystal Williams, e Noelle Rodriguez abriram processo por ofensas relacionadas ao peso, assédio sexual, religioso e racial, cárcere privado, entre outras alegações (via Yahoo!). Junto à cantora, a dançarina líder Shirlene Quigley também enfrenta denúncias.

Em setembro, a estilista Asha Daniels acusou Lizzo de manter uma "cultura de trabalho insegura e sexualmente carregada". Em declarção à NBC News (via The Guardian), Daniels afirmou: "Estava presenciando dançarinas, backing vocals, minha equipe local e eu mesma sendo assediadas regularmente". O processo ainda acusa a gerente de guarda-roupa de Lizzo de fazer "uma imitação estereotipada de mulher negra atrevida".

Os advogados da artista tentam anular a denúncia sob o argumento de que Asha vive em Nova York e foi contratada por uma empresa de Delaware. Por isso, o processo não poderia ser aberto na Califórnia. Além disso, eles descreveram Daniels como uma ex-funcionária "descontente" e negam as acusações.

Mick Jagger e os oito filhos sem herança

Mick Jagger afirmou ao The Wall Street Journal que seus filhos "não precisam de US$ 500 milhões para viver" e que doar o dinheiro de sua parte do catálogo dos Rolling Stones para instituições de caridade faria "algum bem ao mundo".

Mick e Lucas Jagger (Foto: Ryan Pierse/Getty Images)

O músico tem bastante herdeiros, sendo um deles metade brasileiro. Lucas Jagger é fruto da relação de Mick com a apresentadora Luciana Gimenez. Se pudesse tocar na fortuna que o pai deixará quando morrer, Lucas teria que dividi-la com sete irmãos.

Luísa Sonza: sobrou para o Chico Buarque

Luísa Sonza anunciou o fim do relacionamento com Chico Moedas no dia 20 de setembro, durante o programa Mais Você, apresentado por Ana Maria Braga. Quando a cantora descobriu ter sido traída, ela já havia lançado Escândalo Íntimo, álbum que inclui música dedicada ao agora ex-namorado, "Chico".

+++LEIA MAIS: Luísa Sonza: Qual foi o desfecho de processo sobre racismo?

No entanto, para resolver o problema, Sonza criou uma nova versão da faixa e ensinou a letra para os fãs presentes em show do dia 29 de setembro. "Para parafrasear Chico Buarque, mais ainda, e cantar: 'Se acaso me quiseres, sou dessas mulheres...'", explicou. "Esse nome é só um nome. Esse nome é do Chico Buarque. Essa música é pro Chico Buarque pra mim."

O público aprendeu rápido e abraçou a mudança, trocando "Chico, se tu me quiseres" por "Se acaso me quiseres". Assista:

U2 morando de aluguel na Sphere

Desde o final de setembro, o U2 tem feito um show surpreendente na Sphere — o U2: UV Achtung Baby Live at Sphere — que celebra o Achtung Baby (1991). Ao todo, a banda irlandesa deve completar 40 apresentações na arena em Las Vegas.

O local tem 112 metros de altura; 157 metros de largura; tela de 54 mil m², 50 milhões de luzes led e 173 milhões de pixels; e aproximadamente 167 mil alto-falantes. 

Embora inovadora, a chamada "Esfera Gigante de Las Vegas" não foi vista com bons olhos por todos. Jon Caramanica, do The New York Times, apontou contradições:

Apesar da ambição visual que o espaço exige, pouco desse fardo recai sobre a banda em si, que está em grande parte confinada ao tamanho do palco que se pode encontrar em qualquer teatro regional do país (aumentado por uma estrutura de toca-discos inspirada em Brian Eno, embora não tenha sido usado de forma muito eficaz). É uma configuração estranhamente vulnerável e deselegante para o que é essencialmente um show seguro para uma banda ainda desejada.

Bruce Dickinson, vocalista do Iron Maiden, criticou os planos de Londres para construir uma mega-arena como a Sphere, em Las Vegas. "Que perda de tempo. Um desperdício de tempo e dinheiro. Seria muito melhor converter meia-dúzia de pubs antigos em locações e dizer aos jovens: 'Ei, há um local gratuito. Vá tocar'", disse em entrevista à Bandit Rock (via NME).

Duda Beat e Juliette na campanha da Bauducco

Evandro Fióti, músico e co-criador da Lab Fantasma, levantou as semelhanças conceituais entre "AmarElo", de Emicida, e "Magia Amarela", lançamento de Duda Beat e Juliette do dia 18 de outubro. "Tem que falar mais alguma coisa?," escreveu Fióti no Twitter, em resposta a uma captura de tela que mostra trecho da canção do duo nordestino. O verso diz: "A cor da vida é amar elos reais."

A capa do single lembra a do álbum ao vivo de Emicida. Em ambas, vitrais estão em destaque ao fundo da imagem. O cenário é o mesmo usado nos palcos pelo rapper. Evandro pediu, porém, para que fãs não atacassem as cantoras na internet. "Não quero hate em cima da Juliette ou Duda," disse.

Capas de álbum de Emicida e de single de Duda Beat e Juliette (Fotos: Reprodução)

Em meio às acusações de plágio, a Bauducco e a Galeria, empresas responsáveis pela campanha, divulgaram nota: "Diante de questionamentos sobre o projeto e sobre as cantoras, a Bauducco decidiu cancelar a campanha e seguirá dialogando com os artistas envolvidos, pelos quais manifesta total respeito e admiração. Em novas oportunidades, a marca voltará a celebrar sua cor icônica e sua mensagem de união”, declararam em trecho. 

A última música dos Beatles

No dia 2 de novembro, dia de finados, os Beatles lançaram "Now and Then", uma composição de John Lennon gravada também por Paul McCartney, George Harrison e Ringo Starr

Lennon gravou uma demo da música no final dos anos 1970. Anos depois da morte do músico, Yoko Ono entregou a fita para os outros beatles. Somente em 2023, Paul e Ringo finalizaram a canção com a ajuda de IA.

A decisão dividiu a opiniões, mas McCartney esclareceu nas redes sociais:

Vimos um pouco de confusão e especulações. Para ser claro, nada foi criado artificialmente ou sinteticamente. É tudo real e todos nós tocamos na faixa. Limpamos algumas gravações pré-existentes, um processo que durou anos. Esperamos que vocês amem tanto quanto nós.

Travis Barker bem longe do Brasil

Travis Barker parece ter ficado descontente com comentário de fã brasileiro. O baterista publicou story no Instagram com "Amanhã" escrito em inglês sobre um fundo preto. Pouco tempo depois, o fã-clube italiano do Blink-182 publicou a imagem e perguntou: "O que vocês acham que Travis está preparando?"

O tweet foi abertura o suficiente para que Diego Miranda, vocalista e guitarrista do Scracho, brincasse: "Ele vai cancelar o show no Brasil". Barker não gostou, mas a afirmação tinha fundamento — o Blink-182 cancelou apresentação no Lollapalooza deste ano em decorrência de uma lesão na mão. Na Europa, o músico precisou voltar para casa para atender uma urgência familiar e, por isso, também cancelou shows.

+++LEIA MAIS: Blink-182 cancela shows na Europa após Travis Barker voltar para casa; fãs reagem: 'Sou do México e comprei 3 datas aqui depois que cancelaram lá'

"Fod*-se, vou cancelar então", disse Travis em resposta a Miranda, que tentou reverter a situação. "Não! Nós te amamos, é uma piada, você não vai se arrepender, o público será insano. Desculpe, por favor, não", escreveu.

Sabrina Carpenter e a demissão do padre

Sabrina Carpenter foi motivo para que uma igreja em Nova York precisasse ser benzida novamente. A cantora gravou o clipe de “Feather” na Our Lady of Mt Carmel-Annunciation Church, no Brooklyn, usando um vestido curto de tule preto em cenário com itens associados ao catolicismo, o que não agradou os religiosos.

O padre que autorizou as filmagens, Jamie J. Gigantiello, foi desligado do cargo, embora tenha esclarecido que sua intenção era "fortalecer os laços entre os jovens artistas” e a comunidade católica.

A cantora justificou em entrevista à Variety: "Conseguimos aprovação antecipada". Ela ainda fez um trocadilho dizendo que "Jesus era carpinteiro" — o sobrenome Carpenter pode ser traduzido para o português como "carpinteiro".

A diocese afirmou que Gigantiello não seguiu a política correta em relação a gravações em propriedades da Igreja Católica, que inclui revisões de cenas, e se declarou “chocada” com as imagens feitas por Carpenter na paróquia.

Entrou muda e saiu calada: Taylor Swift no Brasil

Taylor Swift demorou para falar sobre algo além dos próprios ex-namorados e sobre si mesma. Embora ela venha se posicionando sobre as eleições nos Estados Unidos desde 2018, apoiando os direitos da comunidade LGBTQ, a cantora é conhecida pelo seu silêncio. Ao contrário de amigos próximos, como Blake Lively e Ryan Reynolds, Swift não se preocupou em falar sobre a guerra entre Israel e Palestina, por exemplo. 

Foi apenas com a morte de Ana Clara Benevides — ocorrida durante show da The Eras Tour no Rio de Janeiro — que alguns fãs se espantaram com a frieza da artista. Desde a tragédia, no dia 17 de novembro, uma das poucas manifestações de Taylor sobre o assunto incluíram uma informação falsa: ela afirmou que Ana Clara faleceu antes de seu show, diferente do que os veículos brasileiros comunicaram, com base no depoimento de uma testemunha.

+++LEIA MAIS: Taylor Swift: Polícia informa que CEO da T4F será intimado no mesmo dia em que ele se pronuncia

A dona do hit "Anti-Hero", porém, convidou a família de Benevides para assistir ao show que encerrou a turnê no Brasil. Todos posaram juntos para uma foto ao lado de Swift nos bastidores:

Os shows de Taylor no Brasil também foram importantes para pressionar produtoras, que precisaram abdicar minimamente do lucro e se preocupar com a distribuição gratuita de água nos eventos. No entanto, os mais de 100 projetos de lei sobre o tema não viram avanço. Ao mesmo tempo, 30 ações foram protocoladas contra a T4F (Time For Fun).

Gilberto Gil recebeu ligação de Tyler, The Creator

Tyler, the Creator pagará indenização de US$ 50 mil, após usar a música "Duplo Sentido", de Gilberto Gil, em ação publicitária da Golf Le Fleur sem autorização prévia. O valor equivale a cerca de R$ 245 mil na cotação atual. Segundo a Folha de S.Paulo, o rapper também ligou para o músico brasileiro e pediu desculpas.

+++LEIA MAIS: Tyler, the Creator pede desculpas a Gilberto Gil após usar música sem autorização

Kiss e ABBA: shows com avatares virtuais

No início de dezembro, o Kiss fez o último show da turnê End of the Road, que encerra, oficialmente, as atividades da banda. "Hoje, uma nova era se inicia. #KISSARMY, o fim é apenas o começo", escreveu o grupo no Twitter. "Kiss foi imortalizado e renascido como avatares para fazer rock para sempre."

Assim como o ABBA investiu em avatares virtuais na turnê Voyage — que mostra os suecos em uma versão mais jovem — o Kiss também apostou na tecnologia. Segundo Gene Simmons, os avatares "ficarão melhores", e cerca de US$ 200 milhões de dólares estão sendo investidos na empreitada.

"Há muita coisa sendo planejada, até além da minha compreensão. Mas eles estão gastando cerca de 200 milhões para levar a outro nível", disse o músico em encontro com fãs no estúdio Electric Lady, em Nova York. Simmons ainda elogiou o show do ABBA: "Não dá para dizer se eles estão lá".

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Os avatares estão sendo desenvolvidos pela empresa de George Lucas, Industrial Light & Magic, em colaboração com a Pophouse Entertainment Group, cofundada por Björn Ulvaeus, do ABBA.